sábado, 27 de fevereiro de 2010

O segredo por trás de O Segredo 5

Reportagem: Pablo Nogueira




Por falar em lendas árabes, "O Segredo" usa outra para exemplificar o funcionamento da lei da atração. Trata-se de "Aladim e a Lâmpada Maravilhosa". O documentário defende que o gênio é uma representação do Universo, sempre pronto a atender os pedidos que cada um lhe faz constantemente por meio de seus pensamentos e emoções. A história serve para sugerir que o Universo está sempre realizando nossos desejos. E, se não estamos felizes com o que estamos recebendo, basta mudarmos a maneira como pensamos e o Universo atenderá sem falhas. "Na religião, o pedido é como se fosse uma negociação entre duas partes, na qual o fiel é uma pessoa, e Deus é outra. Já na magia é tiro e queda", diz Pierucci.

Pois é esse discurso de "eficiência máxima" que pode fazer com que homens e mulheres do século 21, acostumados a viver numa sociedade de alto desenvolvimento tecnológico, se joguem de cabeça no pensamento mágico e na auto-ajuda, especialmente os adeptos da new age (nova era), movimento surgido nos anos 1970 e que mistura elementos de várias religiões e filosofias. É o que pensa o antropólogo inglês Andrew Dawson, da Universidade Lancaster. "As pessoas da nossa época são fascinadas com a ciência. Ela é vista como a aplicação prática de um conhecimento que é altamente eficiente e que proporciona sempre o efeito desejado. Os adeptos da new age acreditam que, se realizarem corretamente certos rituais e práticas específicos, encontrarão as respostas pelas quais procuram. A ciência oferece à new age um modelo no qual se espelhar", diz.

Mas a eficácia não é o único aspecto que seduz e atrai tanta gente para a espiritualidade new age, que permeia todo o discurso de "O Segredo", tanto no livro quanto no documentário. Ela é capaz de dialogar com indivíduos de classe média de todos os países industrializados do mundo, do Japão ao Brasil, pois oferece elementos que são valorizados pela vida moderna. Entre eles estão a autonomia intelectual - o senso de descobrir suas próprias verdades, em vez de meramente aceitar dogmas prontos vindos das religiões tradicionais - e a busca de riqueza e qualidade de vida. "A new age diz que não há problemas em possuir a riqueza e a estabilidade que a classe média de todos os países já tem. Nem em procurar mais riqueza e sucesso", diz Dawson.

Além de servir como um combustível para a imaginação, há um último segredo importante em "O Segredo", de Rhonda Byrne: o impacto emocional que o filme e o livro conseguiram criar em milhões de pessoas. Mais uma vez, a obra retoma os elementos essenciais da auto-ajuda. Neste caso, no que ela tem, talvez, de mais concreto, que é a sua capacidade de criar motivação. Assim, quando um livro com uma "verdade" apresentada de forma muito forte cai nas mãos de uma pessoa que pode estar numa situação difícil, ela se pergunta: "E se eu tentar?". Afinal, muita gente tem uma grande vontade de acreditar que de fato exista um segredo que possa mudar a vida. É essa expectativa de que algo pode melhorar que realmente pode causar transformações e melhoras. E não "O Segredo" em si.

Revista Galileu

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