terça-feira, 24 de novembro de 2009

Sociologia clínica 2

Não há, para esse coletivo, uma fórmula única de se intervir em um dado campo social, institucional, organizacional ou outro. O próprio campo e o seu jogo de forças flexionam a maneira de conceber uma metodologia associada a uma base teórica consistente de modo a colocar-se uma inventividade em ato, sempre fruto de um coletivo. "Pode-se dizer que a Sociologia Clínica se caracteriza melhor como um movimento científico inscrito no 'movimento do pensamento complexo', em oposição ao pensamento disjuntivo, redutor, unidimensional e mutilante", diz Norma Tekeuti, usando expressões de Edgar Morin.

Eventos e organizações



Os pesquisadores têm se reunido em congressos, encontros, colóquios e jornadas, como o Congresso internacional de Sociologia Clínica já em sua décima primeira versão. A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) abrigou dois desses congressos - as versões VIII (em 2001) e XI (em 2007). Há também o Colóquio de Spetses- Grécia que se realiza a cada dois anos. O próximo será em maio de 2008, na sua 5ª versão, em organização conjunta entre a Universidade de Atenas, sobre o tema O sujeito face às contradições da sociedade hipermoderna.

A cada dois anos, há um encontro do Congresso da AISLF pelo seu Comitê de Pesquisa nº 19 cuja próxima reunião será em Istambul, em julho de 2008.

Em 2001, foi criado o Instituto Internacional de Sociologia Clínica (IISC), em Paris, onde se encontram pesquisadores e clínicos que desenvolvem formação, pesquisa e oficinas de Histórias de Vida (www.sociologieclinique-iisc.com).

Anualmente, o IISC organiza um Colóquio, cujo tema previsto para maio de 2008 é Pourquoi se raconter? (Por que contar [histórias de vida]?).

O Laboratoire de Changement Social da Université Paris 7, França (LCS), sob as direções de Vincent de Gaulejac e Eugène Enriquez, tem sido um pólo aglutinador de pesquisadores de diversos países. Alguns sociólogos clínicos brasileiros são membros associados desse laboratório, como os pesquisadores Teresa Carreteiro, Norma Takeuti e Aécio de Gomes Matos.

Fonte: Norma Missae Takeuti( UFRN), Vanessa Andrade de Barros (UFMG), Cronos - Revista do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFRN e livro Cenários Sociais e Abordagem Clínica, organizado por José Newton Garcia de Araújo e Teresa Cristina Carreteiro


O movimento se inscreve no núcleo do debate sobre o processo de subjetivação e a questão do sujeito - obliterados do campo científico sociológico nesta contemporaneidade de intensa transformação de significações em todos os setores da vida humana. "A abordagem procura a sua consistência em torno das concepções do pluralismo e da alteridade nas quais as categorias de 'historicidade, experiência do sujeito e vivido' tornam-se o seu arsenal privilegiado de reflexão e 'produção de sentido' dentro da proposta da epistemologia da recepção", expõe a pesquisadora.

Em seu artigo Abordagem clínica nas ciências humanas, o sociólogo clínico do Québec, Robert Sévigny, registra que "o sentido da palavra clínica é observar diretamente, junto ao leito do paciente". O termo é polissêmico, mas, segundo Norma Takeuti, para o que interessa à Sociologia Clínica, pode-se dizer que a palavra do 'paciente' - o que ele tem a dizer sobre aquilo que o atinge - é de suma importância para se conhecer, compreender e aprofundar o 'objeto' de interesse do 'clínico' e do 'sujeito estudado'.

A postura clínica se afasta de um esquema clássico na Sociologia de separar o momento de refletir a teoria e o momento da prática. "Não se trata apenas de colher dados de campo, mas, também, de intervir onde há demanda - seja por parte de grupos, instituições, organizações, comunidades - para se efetuar um trabalho de elucidação de processos que os indivíduos vivem numa dada situação. De toda forma, o pressuposto é que só os próprios sujeitos podem conhecer o sentido de suas ações", analisa.

Para Robert Sévigny, "o caso pode ser um indivíduo, uma organização, um grupo, uma profissão, uma região e até uma sociedade que tenha uma experiência em comum".

A esse respeito, o doutor em Psicologia Clínica e Social, José Newton Garcia de Araújo, professor da PUC-Minas, comenta: "esta disciplina supõe que, em suas intervenções e pesquisas, o sociólogo clínico não se contente em olhar 'de cima' um dado fenômeno, a fim de diagnosticálo ou decifrá-lo". Ele afirma que a compreensão ou o saber, relativos à situação na qual o sociólogo clínico intervém, constrói-se com a ajuda de outro olhar, isto é, o olhar dos sujeitos envolvidos no fenômeno social pesquisado. Do mesmo modo, toda intervenção sociológica, em uma instituição ou em uma organização, supõe discussões e decisões partilhadas com esses mesmos sujeitos. A metodologia da intervenção e da pesquisa, em Sociologia Clínica, requer a abertura do espaço da palavra e da ação aos atores sociais nelas envolvidos. Falamos, então, de uma intervenção participada, de uma pesquisa-ação. Esses sujeitos, tanto quanto o pesquisador, são também sujeitos de conhecimento, detentores de outros saberes oriundos de suas práticas e de sua reflexão, de seus desejos, de seu imaginário criador. Por isso, é essencial a escuta desses atores, no sentido de mobilizá-los subjetivamente, nos planos individual e coletivo, no sentido de torná-los, enquanto possível, sujeitos de sua própria história (veja quadro Histórias de vida).


A abordagem do tipo clínico está presente desde as origens da Sociologia, como por exemplo, na obra de Gabriel Tarde (foto), mais reconhecido no campo da Psicologia SociaL

Priorizar a análise de caso é uma característica da abordagem clínica assinalada por Robert Sévigny, que diz ser tanto para um indivíduo quanto para a sociedade


Priorizar a análise de caso é outra característica da abordagem clínica assinalada por Robert Sévigny. Ele diz que um caso pode ser tanto um indivíduo, uma organização formal, um grupo de atores que vivem uma experiência comum, uma profissão, uma região e até uma sociedade em sua globalidade. Segundo o pesquisador canadense, é preciso reconhecer que quanto mais o caso se torna extenso, quanto mais se trata de grandes conjuntos complexos, fica menos fácil de aplicar com rigor a abordagem.

Para a professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Vanessa Andrade de Barros, doutora em Sociologia pela Université Paris 7, "clinicar remete a estar junto à situação que se quer compreender, em campo e não em laboratórios. É uma prática centrada em casos individuais, particularmente problemáticos, para os quais é preciso encontrar soluções. Os problemas recaem nos indivíduos, mas também sobre grupos, organizações e instituições, acontecimentos e situações particulares que são examinados sob o ângulo de sua singularidade e especifica.



Revista Sociologia

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