terça-feira, 17 de novembro de 2009

Os dramas da mente 1

As artes cênicas desenvolvem, por meio da dramatização, o desempenho pessoal e profissional de leigos e até de psicólogo

Por Anderson Fernandes de Oliveira




Assista a uma aula de teatro e veja como ela pode ser interessante. O vídeo chama-se Matéria Timidez, e mostra um pouco de como funcionam as aulas em cursos de artes cênicas. Ele está disponível gratuitamente no You Tube e foi produzido por Programa Fuzarka - Band minas.

A mente vive nos pregando peças. Quantas vezes nos deparamos com situações em que não conseguimos controlar nossa ansiedade, nossa angústia, nosso medo? Falar em público, por exemplo, pode ser um desafio assustador, abrindo a possibilidade de trazer consigo todos esses sentimentos citados. Contudo, isso pode ir além de um quadro de simples timidez: pode ser um bloqueio, um problema muito maior. Quando chega a hora iminente de se apresentar diante de outros, os riscos de passar por uma situação constrangedora são grandes.

Geralmente, este tipo de situação está ligado à infância e à adolescência, quando se iniciam os primeiros trabalhos escolares que exigem exposição. Mas essas travas podem ultrapassar as barreiras acadêmicas e prejudicar o campo profissional de diversas pessoas, inclusive psicólogos.

PSICODRAMA NA PRÁTICA

Jacob Levy Moreno (1889-1974) criou a concepção de que podemos definir a alma hu- 58 psique ciência&vida mana por meio da ação, intitulada Psicodrama. É um método de pesquisa e intervenção nas relações interpessoais entre grupos ou de uma pessoa consigo mesma. Ele também idealiza a Sociometria, que focaliza o próprio grupo, diferentemente da técnica de Psicodrama, com foco no indivíduo no trabalho dramático.

Moreno sonhava com a transformação social e do trabalho. Já no começo do século XX, ele ia às praças públicas de Viena e interagia com a comunidade, provocando sua plateia a descobrir novas formas de estar no mundo. A Filosofia do momento, que embasa a teoria e a prática psicodramática, configurou-se por sua observação do potencial criativo do ser humano.

Em grego, drama significa "ação", portanto. Psicodrama pode ser definido como uma via de investigação da alma humana mediante a ação. Mas, na prática, será que essa técnica seria capaz de desenvolver um indivíduo com os bloqueios sociais que o limitam às apresentações em público?


Muitos profissionais, até mesmo psicólogos, têm uma grande barreira mental que os atrapalham - ou impedem - de se apresentar em grupo


Marília Ferreira é atriz e se envolveu com arte há pouco mais de três anos. Ela diz que na infância tinha sérios problemas em se envolver com os grupos escolares. Mais que isso, tinha dificuldade de se expressar e era muito introvertida. Este problema, na fase adulta, foi sanado graças às aulas de teatro. Nelas, Marília destaca os "jogos teatrais", que buscam trabalhar a exposição da pessoa. "Eles nos fazem agir algumas vezes de maneira boba diante de algumas pessoas, mas justamente para que haja uma quebra nos bloqueios da timidez. Aos poucos, e com muito trabalho, esse bloqueio vai desaparecendo começamos a desenvolver melhor um lado 'cara de pau' por assim dizer. Você fica mais preparado para agir quando for solicitado", explica a atriz.


TÉCNICAS CÊNICAS

Para extravasar a timidez, portanto, pessoas têm como alternativa as aulas de teatro. Para a jovem atriz Marília, na didática em palco há um grande desenvolvimento pessoal, mas isso depende e varia de acordo com os limites de cada pessoa. "Teatro é autoconhecimento, e não um psicólogo que irá discutir seus problemas mais íntimos", ela comenta. Tendo em vista ideários como este, algumas escolas de teatro estão adotando técnicas do Psicodrama de Moreno, com o intuito de embasar ainda mais as disciplinas do curso.

Com mais de 13 anos de experiência como consultora na área de relacionamento com o cliente, ministrando diversos módulos de treinamentos para atendentes, supervisores e gerentes de empresas de Call Centers, a psicóloga Roseli de Freitas, especializada em Telemarketing pela Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), ressalta a importância da abordagem cênica para o aperfeiçoamento da desenvoltura pessoal, que reflete direto no campo profissional.


Sobre os desafios que as pessoas enfrentam na hora de se apresentar, relacionar-se e desenvolverse com outras, Roseli considera o medo o maior deles. Medo da exposição, de errar, de ser julgado, de não ser aceito, de sentir-se rejeitado. Em processos seletivos, por exemplo, a psicóloga observa que muitas pessoas com talento perdem grandes oportunidades por não terem coragem de se expor, de correr riscos. Padrão esse que pode ter sido aprendido com base em um modelo rígido de educação, em busca da perfeição.

Roseli, trabalha com a autoestima das pessoas que lidam, antes de tudo, com a emoção de alguém que está do outro lado, com o cliente.



Revista Psique

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