Por Paulo Roberto Pedrozo Rocha
O Grito, de Edvard Munch (1893). Obra expressionista que evoca desespero existencial. Dor e angústia também são algumas das interpretações a respeito do quadro
Sísifo, por Max Klinger (1914). No mito grego, Sísifo é condenado a eternamente rolar uma pedra morro acima e buscá-la morro abaixo. Exemplo de paixão à vida, mesmo no absurdo da falta de sentido
Contudo, será num ensaio (e é importante lembrar que o ensaio é mais do que uma mera variação dos tratados filosóficos), e não em um romance que Camus irá elaborar o que poderíamos chamar de "DNA" do novo romance filosófico. O Mito de Sísifo se impõe como um instrumento de reflexão representando um gênero literário - o dos ensaios - consagrado na Literatura francesa desde Michel de Montaigne no século XVI.
O Mito de Sísifo é um livro de 1942. Nesta época, Camus já se distanciava gradativamente do existencialismo, corrente à qual, em sua opinião, ele nunca pertenceu. Para ele, não havia sentido exigir da Literatura uma posição sempre militante.
Esse comportamento sugeria a Camus uma espécie de mascaramento da realidade, pois ele via uma explícita intenção por parte dos pares do existencialismo em defender as atrocidades cometidas pelo regime soviético. Para Camus, a obrigatoriedade do engajamento implicaria, necessariamente, em um desvirtuar da tarefa principal da Literatura: revelar a alma humana.
Daí as primeiras impressões colhidas em O Mito de Sísifo: "Começar a pensar é começar a ser atormentado... matar-se, em certo sentido, e como no melodrama, é confessar. Confessar que fomos superados pela vida ou que não a entendemos." Ao invés de uma confissão militante, se impõe uma decepção, um gesto que implica no desapontar-se com o mundo, o que poderia ser denominado noção do absurdo.
Ao propor a noção de absurdo, Camus passa quase que inexoravelmente a expor o tema de seu ensaio, que era "essa relação entre o absurdo e o suicídio, a medida exata em que o suicídio é uma solução para o absurdo." A princípio, os leitores de Camus poderiam supor que de sua escrita iria advir uma solução para a noção de absurdo. Ainda que esta solução fosse limite, ainda que constatasse que a vida não valeria a pena. Esta expectativa, na verdade, é frustrada.
ABSURDO: TEMÁTICA RECORRENTE ENTRE OS FILÓSOFOS
Albert camus não foi o primeiro a refletir sobre o absurdo. outros filósofos também lidam com esse tema. ele está presente nas teorias de Soren Kierkegaard, Léon Schestow, Karl Jaspers, Martin Heidegger, edmund Husserl e, mais próximos a camus, de Jean-Paul Sartre e Maurice Merleau-Ponty. Para Heidegger, por exemplo, o existir é o absurdo e a Filosofia deve fazer o homem se dar conta disso. absurdo porque o "ser", lançado no tempo, e que nunca "é", depara-se com o "nada", e vive a angústia.
Mas Heidegger defende que essa percepção faz o homem se deparar com sua finitude e valorizar seus potenciais. Já Sartre, filósofo existencialista, associa o absurdo à "náusea" de estar vivo. a "náusea" adviria do fato de o homem não poder ser senão o "não-ser" e, "não-sendo", nunca poder se deparar com o nada. Karl Jaspers segue outra linha. ele acredita que a certeza existencial passa pela fé. ele defende uma fé filosófica. Só ela faria o homem entender o absurdo da vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário